Neste ensaio, o filósofo e historiador interroga a démarche da história face às imagens e da história da arte perante o seu objeto, entre a abertura e a tentativa da domesticação. Referem-se, no quadro francês, a escola dos Anais, Fernand Braudel, Charles Morazé, André Leroi-Gourhan, Ignace Meyerson, Roger Caillois, Lucien Febvre, Pierre Francastel; sem prejuízo do importante desenvolvimento constituído por Hubert Damisch, ou por Louis Marin.
Mas é na iconologia de Warburg, sensível à irrupção paradoxal da memória, que desarruma as coordenadas de uma cultura, constituindo uma sintomatologia sempre provisória, precária, que o autor encontra uma perspectiva de análise propriamente adequada à arte e às imagens. Evoca-se a Ninfa que irrompe num fresco de Ghirlandaio, objeto de uma brevíssima troca de correspondência entre André Jolles e Aby Warburg, em que se identifica toda a estranheza da irrupção da esvoaçante donzela no meio de um hierático nascimento no seio da burguesia florentina; o anacronismo é evidente; a Ninfa é uma irrupção sintomática; toda a questão é de onde ou de o quê? Questão sem resposta definitiva, tout-court e por Warburg, no que o estudioso de Hamburgo dá exemplarmente conta do carácter eminentemente aberto da interpretação da imagem-sintoma – como S. Freud desenvolverá. A ligeira donzela torna-se pois a figura emblemática do Nachleben ou Sobrevivência warburguiana, um «"fóssil fugaz" que atravessa o espaço figurativo como um acidente ou um fantasma não resgatado», intensificando-o. A Ninfa é a imagem que irrompe e atravessa o mundo simbólico transformando-o, de um modo que não é capazmente explicado por meio das categorias iconográficas e históricas tradicionais. «Para além das "fontes" verificáveis e das tradições "visíveis", ou seja, para além das distinções óbvias entre "tempos curtos" e "longas durações", a temporalidade das imagens enreda tudo isto numa trama complexa de trajetos indiretos e de transmissões invisíveis, de acontecimentos inesperados e de latências da memória..., tudo o que caracteriza a noção de sintoma», com o que ele carrega de incongruência, desadaptação, menoridade, obsolescência, transitoriedade. É assim que numa prancha do seu Atlas Mnemósine, Warburg coteja a elegante serviçal de Ghirlandaio com a imagem de uma rústica camponesa e, noutro lugar, uma robusta jogadora de golfe.
É por esta via que Georges Didi-Huberman perspetiva a história que trata e é sensível às imagens como um «saber excêntrico», animado por uma «força diagonal» (H. Arendt), configurando-se com um «saber nómada» que, por ligeiro que seja o seu passo, «pode agir como uma verdadeira "máquina de guerra" contra os aparelhos territoriais» (G. Deleuze e F. Guattari).
Neste conciso ensaio e com excepcional clareza, o autor dá bem conta da heurística que prossegue em torno da vida, do pensamento e da política das imagens.