Livres olhos da história by Georges Didi-Huberman

Livres olhos da história

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O tempo é uma experiência psíquica, corporal e espacial que nos envolve. É através da percepção da duração, da memória, do desejo, do antes e do depois, perante um certo «estremecimento do tempo», que nos orientamos no visível e no mundo das imagens. Ver e estar formam assim a experiência movente do visível, o modo recíproco de um saber visual atento à complexidade, à abertura, e à compreensão das imagens.
Neste ensaio, G. Didi-Huberman procura indagar a estreita relação estética, epistemológica, ética e política que constitui o saber sensível: uma tomada de posição sobre os aspectos sensoriais e psíquicos da experiência temporal capazes de subverter os álibis inteligíveis da representação e a ideia-fixa da mimesis. Mostra-nos assim como é fundamental não imobilizar as imagens, não as reduzir ao estatuto funcional de «documentos visuais», nem as resumir a uma simples «chave» interpretativa, e, mais importante ainda, leva-nos a olhá-las, a deixá-las existir e a emancipá-las de um «ver integral», de uma «classificação universal» ou de um «saber absoluto». No seu movimento intrínseco, as imagens são «operadores privilegiados» de tempo, «os cristais» da dimensão histórica, ética e política enquanto tal. Elas manifestam um desejo complicado de tempo, e tornam manifesto que a ética e a política são, desde logo, questões de subjectivação, de imaginação, de desejo e expressão. 
A exemplo dos documentos fotográficos e clínicos de La Salpetrière, da representação forçada da crise histérica, dos basamentos ornamentais de Fra Angelico no Convento de S. Marco em Florença, e das quatro fotografias feitas pelos membros do Sonderkommando de Birkenau, considerando igualmente a argumentação teórica de A. Warburg, T. W. Adorno, G. Bataille, C. Einstein, S. Freud, M. Foucault, o autor constrói não apenas uma montagem discursiva e crítica sobre a razão movente das imagens, como também uma remontagem visual e sintomática acerca do papel das imagens na formação de um gaio saber inquieto. Livres olhos da história perseguem, portanto, o gesto de ver e de perscrutar o visível para assim aprofundar e criticar o saber histórico, e deste modo, ao interrogar o tempo, permitir historicizar e criticar as imagens. Porque, como afirma o autor, se as imagens fecundas são fecundadas pelos olhos da história, também a visão e o nosso pensamento são portadores de uma tal potencialidade.

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