"A partir da consideração de que a sexualidade é uma característica humana
inafastável, evidencia-se a existência de uma enorme gama de situações em que
aspectos vinculados ao sexo, gênero, orientação sexual e identidade de gênero estão
na base de condutas ensejadoras de responsabilidade civil, razão pela qual tal obra se
mostra tão necessária e pertinente, ainda mais nos tempos atuais, sobretudo em razão
dos danos sofridos refletirem o espectro de forte discriminação e opressão.
Todas as pessoas têm a sua vivência em sociedade tangenciada pelos
elementos que lhe são caracterizadores, o que descortina que as dissidências sexuais
de forma recorrente suportam diversas situações lesivas que merecem urgente
atenção, tanto sob o enfoque das políticas de combate à discriminação quanto à
efetiva compensação dos danos injustos sofridos. Não resta dúvida que as lesões aos
interesses juridicamente merecedores de tutela adquirem contorno peculiar na medida
em que a injustiça alcança não só o dano em si, mas reverbera em uma dimensão
coletiva de discriminação e estigma.
As ofensas às chamadas minorias sexuais não podem restar incólumes, pois
tais grupos vulnerabilizados necessitam, em um Estado Democrático de Direito, de
especial atenção sob pena de padecerem de uma realidade que os aparte plenamente
de uma vida digna, muitas vezes flertando com uma realidade de segregação e
estigma tamanha que os priva do exercício pleno de sua cidadania inclusiva.