A presente obra vem a lume em um dos momentos mais dramáticos e desafiadores
já experimentados pela sociedade contemporânea. Todos os dias, a mesma liturgia se
repete: são amplamente noticiados os números exponenciais de contaminações e óbitos
provocados pelo coronavírus.
Os efeitos da pandemia também são verificados no campo da economia. Trabalhadores
do mundo todo se veem desempregados, comerciantes não têm perspectivas de
quando a clientela retornará, profissionais liberais tardam a receber novas demandas
de serviço.
Com esse contexto permeando todo o tecido social, a família, tida por muitos em
sua acepção clássica como "célula-base da sociedade" não poderia ficar imune. Toda essa
complexidade é vivida e experienciada pela família brasileira. Assim, é certo que para além
do doloroso enfretamento do luto, a própria necessidade imperativa de isolamento social
também gerou inúmeros impactos em temas atinentes à conjugalidade e à parentalidade.
A gravidade desses tempos exige que seu enfrentamento seja levado a sério. Os
profissionais de todas as áreas, apesar de exaustos, são chamados a contribuir com seus
mais nobres conhecimentos para tentar abrandar os efeitos nefastos desse período. É
sob essa ótica que a presente obra foi concebida.
Sua gênese ocorreu na Páscoa, tradicional feriado católico que carrega consigo a
ideia de renovação e de esperança. Um grupo formado por cerca de quarenta civilistas
debateu com muito entusiasmo o tema, naquele momento catalisado pela existência
de um projeto de lei específico sobre o regime jurídico emergencial e transitório das
relações de Direito de Família e das Sucessões no período da pandemia do Coronavírus
(Covid-19). É fato que o referido projeto não se tornou lei vigente; porém, as discussões
entabuladas fizeram nascer um objetivo genuíno de compartilhar tais reflexões com
toda a comunidade jurídica.