Monteiro Lobato mesmo admitiu que, apesar do título dedicado a Narizinho, quem reinava mesmo nas histórias era Emília. Nem mesmo o autor mais respeitado de toda a literatura brasileira conseguia dominar as peraltices da boneca de pano nas dezenas de aventuras povoadas da mais rica mitologia nacional.
Conhecido como a iniciadora da saga do Picapau Amarelo, Reinações de Narizinho reúne as onze histórias que Lobato começou escrevendo em 1920. Neste livro surgem Narizinho, Pedrinho, o Visconde, Rabicó, Tia Nastácia, e, claro, Emília, que comanda todas as travessuras em um misto de realidade e fantasia, trazendo à cena personagens clássicos da literatura infantil mundial, como Cinderela, Branca de Neve, o Gato Félix, todos ilustres convidados de cada uma das festas.
O fascínio e o encanto mantidos por quase um século e que tomaram gerações e gerações de crianças vêm, sobretudo, da simplicidade das narrativas, como se cada um de nós estivesse compondo o que aconteceu antes e o que vai acontecer depois. Na nossa língua mais sincera e pura, que, pelo estilo único de Lobato em fundar as histórias em um português fluido e atemporal, acaba se tornando produto da espontaneidade natural.
Um clássico do faz-de-conta, na mesma medida que um Esopo ou um La Fontaine, Reinações de Narizinho ainda reina quando pensamos no projeto de uma literatura infantojuvenil nacional. Encontram-se ali os personagens que povoam nosso imaginário há tanto tempo, reunidos integralmente em um único volume, e que nos ensinaram e continuam ensinando a aprender brincando, instigando a curiosidade que é própria da infância e despertando o gosto pela leitura e pelo conhecimento.