Presa a uma rotina de trabalho no ateliê parisiense do marido alfaiate e aos cuidados dos filhos, após uma estadia de pouco mais de um mês na casa do pai, onde testemunha e experimenta os prazeres e luxos da alta burguesia emergente, a senhora Montjean se revolta: não quer mais trabalhar nem cuidar da prole e se lança numa vida vertiginosa. Com muito ruge nas bochechas, passa os dias entre passeios pelos parques e bulevares de Paris, almoços e jantares regados a muita bebida e jogos sexualizados com novos amigos – para desespero do marido, que vê a reputação da família se arruinar, assim como o seu patrimônio. É por meio do diário de um marido perplexo que acompanhamos em detalhes a reviravolta dessa mulher tomada por um irrefreável desejo de emancipação e de ascensão social, seduzida pela vida libertina da aristocracia da época.
Nas mãos de Arlette Farge, uma das historiadoras de maior prestígio da atualidade, a saga do casal se transforma em um caleidoscópio através do qual vemos de perto a sociedade urbana francesa de fins do século XVIII, suas relações e mentalidades, que são o prelúdio da Revolução Francesa.
"Por intermédio do que acontece, com grande quantidade de detalhes, se perfilam simultaneamente a intimidade de um casal e, também, a maneira como as classes sociais vivem o seu destino, seja rejeitando-o, procurando dele se afastar, seja aceitando-o por mil razões." – Arlette Farge