Espécie de sequência natural de Afetos ferozes, este Uma mulher singular é um mapa fascinante e comovente de ritmos, encontros casuais e amizades em constante mudança que compõem a vida na cidade, neste caso, Nova York. Enquanto passeia pelas ruas de Manhattan — novamente na companhia da mãe ou sozinha —, Vivian Gornick observa o que se passa à sua volta, interage com estranhos, intercala anedotas pessoais e meditações sobre a amizade, sobre a atração (tantas vezes irreprimível) pela solidão e também sobre o que significa ser uma intelectual feminista num mundo frequentemente hostil às mulheres e sua luta por autonomia.
Gornick explora como os afetos a forjaram, mesmo sendo tão independente, em uma cidade que, aliás, parece de alguma forma espelhar sua busca pessoal: a Nova York destas páginas transpira a aspereza e o orgulho típicos de uma metrópole, mas também oferece uma miríade de afetos para todos os gostos.
Escrito como uma colagem narrativa que inclui peças meditativas sobre a formação de uma feminista moderna, o papel do flâneur na literatura e a evolução da amizade, Uma mulher singular é também um dos últimos trabalhos de tradução empreendidos por Heloisa Jahn — uma das grandes editoras e tradutoras do país, leitora onívora e generosa, responsável por apresentar diversos autores ao público brasileiro e que sempre viveu rodeada de afetos —, morta em 2022.