Publicado em 1912, "Eu" seria o único livro de Augusto dos Anjos. Os 58 poemas aqui reunidos causaram enorme estranhamento no ambiente literário do inı́cio do século XX e permanecem ainda hoje como exemplares de uma poesia bastante insólita. Frutos de uma singular aliança entre tendências literárias e filosóficas do perı́odo, os poemas de Eu são tributários do cientificismo positivista do século xix, do formalismo parnasiano, do misticismo simbolista — vazado pelas doutrinas espirituais do Oriente, que o poeta empresta de Schopenhauer, junto do pessimismo a respeito das coisas humanas — e das ideias do Naturalismo, que reduzem o homem a seus aspectos biológicos e temperamentais. Anti-idealista, corrosiva e impiedosa na consideração dos destinos humanos, a poesia de Augusto dos Anjos, considerada doentia por muitos de seus contemporâneos, sobreviveu ao século XX muito melhor do que a de autores celebérrimos durante a vida do poeta, como Olavo Bilac e Raimundo Correa.