Este livro nasce de um truco. O autor, Chris van Tulleken, duvidou da hipótese formulada pelo brasileiro Carlos Monteiro. O médico britânico entendia ser inviável que um grupo específico de produtos alimentícios — os ultraprocessados — pudesse ser responsabilizado pela explosão global dos índices de doenças crônicas não transmissíveis. Gente ultraprocessada é, então, a história de um fracasso pessoal que Van Tulleken compartilha conosco, com transparência e sem mágoa. Professor na University College de Londres e especialista em doenças infecciosas, ele se dispôs a entender por que havia um enorme zumzumzum no mundo da alimentação, provocado pelo trabalho de Monteiro. Começa então uma jornada na qual Van Tulleken coloca os próprios hábitos à prova. E o próprio corpo: numa espécie de Super Size Me do século 21, o autor radicaliza a dieta para, durante algumas semanas, alimentar-se basicamente de ultraprocessados. A hipótese aventada por ele e por outras pessoas da área da saúde é de que nada em especial aconteceria. Mas, assim como no início, ele estava errado. Gente ultraprocessada não é um amontoado de curiosidades e apostas. É um olhar criativo e original de uma história que precisava ser contada em detalhes: como Carlos Monteiro e sua equipe lançaram uma contribuição singular para entender um fenômeno que tem abismado a humanidade de forma crescente e quase sem exceções.