A força maior de O momento freudiano está no resgate da psicanálise das muitas armadilhas do pensamento que lhe roubam a potência, tais como o recentramento na consciência, o interesse exclusivo pelo recalcado ou uma certa desconsideração da alteridade. Para Christopher Bollas – um dos mais importantes pensadores da psicanálise contemporânea – é urgente reconhecermos e processarmos estes inimigos da capacidade inconsciente, presentes no seio da teorização e da clínica psicanalíticas. Comprometido com a reversão dessas tendências, o autor se dedica a fazer trabalhar o pensamento da diferença, fundamento da possibilidade de encontro.
Esse é o fio que une os cinco capítulos que compõem este volume, processando no interior do campo psicanalítico as grandes questões que assolam a humanidade: "(…) estamos à beira da extinção. Ou entendemos a nós mesmos e aos outros e encontramos uma maneira de pensar sobre os conflitos uns com os outros, para analisar os processos destrutivos, ou deixamos de existir". Para Bollas, a psicanálise tem aí um lugar fundamental. Mas, para (re)ocupá-lo, ela precisa ser liberada dos travamentos produzidos pelo próprio movimento psicanalítico, que "impede o pensar". É para isso que Bollas lança este tributo ao reconhecimento da alteridade, ao pluralismo, à complexidade, à sustentação de conflitos e aos trabalhos de articulação de diferenças. Uma leitura imprescindível.
Lia Pitliuk, psicanalista e professora do Instituto Sedes Sapientiae