Em um com o impulso é o primeiro volume de uma tríade dedicada à reflexão sobre a experiência estética. Seu eixo procura compreender a articulação profunda entre o que está em jogo na produção artística e as expectativas de emancipação social. Como se o horizonte de nossa emancipação fosse, em uma dimensão fundamental, uma produção estética. Como se algo de decisivo em nossa ideia de liberdade se construísse a partir dos desafios postos pelo campo de obras de arte que acompanham nossas sociedades.
Este volume privilegiou rediscutir o processo complexo de consolidação da autonomia estética. E, para tanto, certas precisões históricas são necessárias. A principal delas consiste em lembrar que esse debate nasce no interior da estética musical, que ele pede então uma confrontação demorada com obras musicais dos séculos XVIII e XIX. Principalmente, isso significa entender que é possível procurar, nas decisões técnicas da forma musical, os caminhos para uma noção de autonomia distinta da autonomia moral, pois estranha a noções como autolegislação e autogoverno.
Outros antes de nós já expressaram o estranhamento de vivermos em uma sociedade na qual até mesmo a liberdade é pensada sob a forma da lei. É que esses foram capazes de escutar certo modelo alternativo de autonomia produzido pela experiência musical. Lembrar disso hoje não é mera operação historiográfica. Antes, é uma forma de mobilizar a reconstrução da tradição para abrir espaço ao que os processos de sujeição cultural em nossa sociedade capitalista procuram negar com todas suas forças. Pois toda transformação é um movimento, ao mesmo tempo, para a frente e para trás.