"Na vida de um homem, sua duração é um ponto, sua essência um fluxo, seus sentidos um turbilhão, todo seu corpo algo pronto a apodrecer, sua alma inquietude, seu destino obscuro e a sua fama duvidosa. Em resumo, tudo o que é relativo ao corpo é como o fluxo de um rio, e quanto à alma, sonhos e fluidos; a vida é uma luta, uma breve estadia numa terra estranha e a reputação, esquecimento."
Marco Aurélio
As Meditações de Marco Aurélio são reflexões "para si mesmo", como o próprio título do original em grego indica. Imperador de 161 a 180 d.C., na fase áurea do Império Romano, Marco Aurélio é conhecido como o "imperador filósofo", que abraçou convictamente o estoicismo e tentou governar segundo seus preceitos. Contrário à futilidade da vida na corte (ele preferia a companhia de seus legionários nas muitas campanhas em que combateu), Marco Aurélio era de caráter introspectivo e vivia uma intensa vida interior. De cada acontecimento, de cada dia, de cada experiência ele procurava extrair uma lição.
Assim nasceram as Meditações, um diário espiritual, papéis privados do imperador não destinados à publicação. Versam sobre a brevidade da vida, o fluxo incessante do tempo, a vacuidade da fama, a proximidade e a inevitabilidade da morte e a instabilidade das coisas humanas.
Quando Marco Aurélio morreu, as Meditações foram recolhidas por seu amigo de infância, Vitorino, que as manteve escondidas. Desaparecidas por quase mil anos, seriam citadas somente nos séculos XII e XIII por gramáticos bizantinos. Finalmente, no século XVII elas foram compiladas pelo cardeal Barberini. Esta edição bilíngue resgata esses textos para o leitor de língua portuguesa.