A história em forma de sonetos fala sobre a trajetória de um jovem estivador sem nome, apenas associado à figura do profeta Jeremias, que, de repente, se vê desempregado e sem grandes perspectivas em Porto Alegre, a pequena cidade grande e grande cidade pequena como dizia Quintana. No meio de uma profunda depressão uma experiência mística o faz modificar totalmente seu espírito em relação às coisas do mundo. Ganhar ou perder agora tem o mesmo peso.
O hoje é mostrado como ele realmente é: uma época apocalíptica cheia de desafios para a fé. Diante do jovem, como que por milagre, apresentam-se nova e velha Jerusalém, como ensina Santo Agostinho. A cidade do mundo contra a cidade do céu. Redescobrindo um velho hábito de infância ele tem na poesia um modo de se relacionar com o divino e então começa a viver de modo contemplativo escrevendo sua própria história através dos versos que o ajudam a clarear seu cotidiano. Agora tudo se torna luta por uma escolha e cada segundo de cada dia em que ele vaga em busca do sustento físico também expõe toda a eternidade e é, através da consciência da mesma, que se inicia a busca pelo sustento da alma. Todos rostos e todas ruas ganham dimensões ao mesmo tempo simples e ao mesmo tempo celestiais.
Na primeira parte do livro o personagem parece falar consigo mesmo à medida que tenta refinar sua rústica escrita, já nos dois capítulos seguintes, encarnando o tímido e perseguido profeta Jeremias, ele encontra na Cruz de Cristo a coragem para dizer tudo que nunca pode para a pequena Porto Alegre que simboliza a Jerusalém terrena, o mundo. Se suas orações e lamentações alcançarão a Jerusalém celeste e se ele conseguirá, através dos versos, deixar o velho para trás nem mesmo o tempo compreendido na palavra hoje poderá revelar, pois somente no dia em que não houver mais dia algum Aquele que torna tudo novo revelará a todos a verdade.