A democracia americana está em crise. Mudanças sísmicas no espaço de uma geração produziram um país de perdedores e vencedores; ao mesmo tempo que criou possibilidades antes inimagináveis de ascensão social, e uma liberdade sem precedentes (nos costumes, iniciativa, vida privada), esse novo estado de coisas conduziu o sistema político à beira da falência e deixou legiões de cidadãos à deriva. É esse outro lado da moeda, o verso da fortuna e da liberdade, o que interessa a George Packer em Desagregação.
Nesta viagem à nova América, o leitor encontrará figuras como Danny e Ronale Hertzell, de Tampa, na Flórida, que largam a escola para se casar e a quem a "terra das oportunidades" oferece subempregos no Walmart, habitação num estacionamento de trailers e o completo afastamento de familiares e amigos; Tammy Thomas, uma operária que luta para se manter no Cinturão da Ferrugem, região do Meio-Oeste que perde suas indústrias de forma irreversível e se converte num aglomerado de urbes fantasmas; mas também Jeff Connaughton, um lobista de Washington que oscila entre o idealismo político e o fascínio do capital organizado, e Peter Thiel, o bilionário do Vale do Silício que questiona o significado da internet.
Packer justapõe essas histórias a breves perfis de personalidades públicas desta nova era, de Oprah Winfrey a Jay-Z, e colagens feitas de manchetes de jornal, slogans de propaganda e letras de canções que captam a corrente dos acontecimentos e seus mecanismos internos, numa tradição que remonta à Trilogia Americana de John dos Passos.
Desagregação retrata um superpoder ameaçado de perder sua essência, com elites sem qualquer senso de responsabilidade, instituições que não mais funcionam, pessoas comuns às quais não resta nada senão improvisar esquemas próprios de salvação e sucesso.